Período
– Sensório-motor
O
primeiro dos 4 estágios do desenvolvimento cognitivo é o estágio
sensório-motor. Este estágio compreende desde o nascimento até os
2 anos de idade e a partir dele conseguimos entender como o bebê se
desenvolve na primeira infância através do desenvolvimento
sensorial e motor, ou seja, os bebês aprendem por meio do
desenvolvimento de seus sentidos e da atividade motora.
Para
Piaget este estágio é composto de seis subestágios que se inicia
desde comportamentos básicos até os mais complexos. Piaget explica
que nos 5 primeiros subestágios os bebês aprendem a coordenar as
informações do sentido e organizar suas atividades em relação ao
seu ambiente – Sensação e Percepção. Já no sexto subestágio,
eles progridem da aprendizagem por tentativa e erro para utilização
de símbolos e conceitos para resolver problemas simples.
2.2.
Subestágios do Estágio Sensório-Motor:
-
Primeiro subestágio (Do nascimento até aproximadamente 1 mês) -
Neste primeiro momento os bebês exercitam os seus reflexos inatos e
começam a ter um controle maior sobre eles. Mesmo assim, ainda não
conseguem coordenar as informações dos sentidos e não pegam
objetos que estão olhando. Um exemplo deste estágio é quando os
lábios do recém-nascido são tocados e ele começa a sugar.
-
Segundo subestágio (1 a 4 meses) - Os bebês aprendem a repetir
sensações boas descobertas por acaso. Piaget chamou isto de reação
circular primária. O bebê começa a se atentar aos sons e agarrar
objetos, além de começarem as primeiras adaptações. Um exemplo
deste subestágio é quando o bebê suga o polegar.
-
Terceiro subestágio (4 a 8 meses) - Neste subestágio os bebês vão
se interessar mais pelo ambiente e tendem a repetir e prolongar
experiências mais interessantes. Observa-se que o bebê faz isso de
forma intencional. Como exemplo, podemos citar o fato de sacudir um
chocalho ou balbuciar quando vê o rosto de alguém.
- Quarto
subestágio (8 a 12 meses) - O comportamento do bebê se torna mais
intencional a partir das experiências e comportamentos já
aprendidos para atingir os seus objetivos. Os bebês começam a
expressar os seus desejos, com isto, neste momento começam a
engatinhar para alcançar e pegar o que querem ou se afastam de algo
que os atrapalhe. Um exemplo deste subestágio é quando o bebê
engatinha para pegar um brinquedo.
- Quinto
subestágio (12 a 18 meses) - Este subestágio está ligado à
tentativa e erro. Os bebês demonstram curiosidade e experimentam
novas experiências e comportamentos para ver o que acontece. Quando
começam a caminhar, os bebês expressam suas vontades com mais
facilidade e conseguem explorar mais o ambiente que está. Um exemplo
deste subestágio é quando a criança aperta um pato que chiou
quando ela pisou.
- Sexto
subestágio (18 a 2 anos) - É o último subestágio que vem como uma
transição para o estágio pré-operatório e para a segunda
infância. A criança desenvolve a capacidade representacional, ou
seja, já são capazes de representar mentalmente objetos e ações
na memória, além de utilizar palavras, gestos e símbolos. São
capazes de imitação diferida, isto é, imitar algo que não está
na sua frente. Um exemplo deste subestágio é quando a criança
brinca de faz de conta.
3.
Alguns Conceitos
Para
Piaget em cada estágio a mente da criança desenvolve uma nova forma
de interagir com o meio que está. Da infância à adolescência seu
aprendizado evolui baseado em atividade sensório-motor ao pensamento
lógico-abstrato. Esse desenvolvimento acontece por meio de três
princípios inter-relacionados. Segundo Papalia (2010), esses
princípios são definidos por Piaget da seguinte forma:
- Organização é
a integração do conhecimento a um sistema para compreender o
ambiente;
-
Adaptação é o ajustamento a novas informações sobre o
ambiente através dos processos complementares de assimilação e
acomodação. Assimilação é a incorporação de novas informações
a uma estrutura cognitiva já existente.
-
Acomodação são as mudanças em uma estrutura cognitiva existente
para incluir novas informações;
- Equilibração
é a tendência de tentar atingir um equilíbrio entre elementos
cognitivos dentro do organismo e entre ele e o mundo exterior.
O
conceito de objeto é uma das bases para o desenvolvimento do
conhecimento de uma criança, pois a partir dele elas começam a
perceber que existem diferenças entre o próprio objeto e as
pessoas. E esse era uma das ideias de Piaget na Teoria dos Estágios,
onde para ele os bebês desenvolviam seus conhecimentos sobre o
objeto e o espaço a partir de seus resultados, ou seja, pela questão
visual e motora.
Segundo
Papalia (2010), Piaget define permanência do objeto como “a
compreensão de que um objeto ou uma pessoa continua existindo mesmo
quando não se pode vê-la”. Piaget diz que “a permanência do
objeto desenvolve-se gradualmente durante o estágio sensório
motor”.
Levando
em consideração esse pensamento e os subestágios do estágio
Sensório-Motor, percebe-se que inicialmente os bebês não têm essa
compreensão e no decorrer dos primeiros meses vão se adaptando e
interagindo com o meio, desenvolvendo-se. Entre 4 e 8 meses os bebês
buscam algo para derrubar, mas se não conseguem vê-lo, agem como se
o objeto não existisse ou como se não estivesse ali. Já com 8 a 12
meses os bebês já buscam objetos onde viram pela primeira vez,
mesmo se alguém mudou de lugar (Entra a questão de tentativa e
erro). Já entre 12 e 18 meses os bebês não cometem o mesmo erro,
pois buscam o objeto no último lugar onde foi colocado e não onde
viu primeiro. E então entre 18 e 24 meses o bebê já tem a
permanência do objeto, pois procuram o objeto mesmo que não tenham
visto.
4. O
brinquedo e o desenvolvimento infantil
Ao
retratarmos o Estágio Sensório-Motor, de 0 a 2 anos, podemos pensar
em diversos brinquedos que nos fazem acreditar na possibilidade de
contribuição para o desenvolvimento e aprendizado das crianças. É
possível listar uma série de brinquedos que, para os leigos, apenas
“agradam, entretém e ocupam” a criança enquanto brinca. Mais
que isso, os brinquedos revelam-se como grandes auxiliadores no
desenvolvimento emocional, cognitivo e social. No entanto, eles
apenas fazem parte do processo, não sendo, portanto, os únicos
responsáveis pelo desenvolvimento da criança no nesse primeiro
estágio do desenvolvimento. O brinquedo é apenas um objeto para os
adultos. Ou não. Existe uma série de significados na relação
entre ele e a criança que poderá perdurar até mesmo à fase
adulta. Segundo Vygotisky (1991) “restariam apenas as regras se o
brinquedo fosse estruturado de tal maneira que não houvesse
situações imaginárias”.
As
situações imaginárias são compreendidas nesse período
principalmente. Se o real começa a surgir na criança, na sua
maneira de perceber o mundo, um pouco mais tarde, dos 4 aos 7 anos,
período no qual elas são capazes de distinguir as diferenças entre
a fantasia e a realidade, o imaginário ou a fantasia estão
fortemente inseridos na primeira infância – de 0 a 2 anos.
Com
isso, se faz possível a interpretação de que a fantasia é capaz
de facilitar e tornar mais atraentes os atributos de um brinquedo
perante a criança, ávida por novas experiências e exploração dos
seus sentidos. Na definição de Psicologia Sensorial proposta por
Cabral e Nick (2006) vê-se uma menção às “(...) reações
psíquicas do homem aos fenômenos físicos por ele observados e
absorvidos através dos órgãos sensoriais (visão, audição, tato,
cinestesia, olfato, etc.)”. O afeto se fará presente a partir da
percepção e dos significados dados ao objeto inserido nas ações
da criança realizadas durante o ato de brincar. Hoje é comum
observarmos a onda saudosista e nostálgica ocupando as redes sociais
– como o Facebook – com publicações sobre brinquedos e produtos
relembrando épocas de infância e revelando o afeto tido não só
pelos objetos em si, mas, também pela época e momentos vividos.
Por mais
que o exemplo mencionado seja o de um brinquedo direcionado a uma
faixa etária superior à primeira infância, será que as crianças
do estágio sensório-motor não são capazes de criar vínculos
menos complexos com seus brinquedos? As crianças nesse estágio
ainda não serão capazes de fixar o afeto pelos seus brinquedos,
levando-o à vida adulta, mas, poderão sim desenvolvê-lo no
presente, durante essa fase, contribuindo para o desenvolvimento das
relações afetivas posteriores.
Além
das questões emocionais, os brinquedos adequados ao nível
desenvolvimental da criança deverá proporcionar o seu
desenvolvimento social e cognitivo. Para uma criança de 0 a 2 anos o
Desenvolvimento Social se dará pela interação familiar – pais,
irmãos , tios, primos e amigos próximos – principalmente. Muitas
vezes, a utilização do brinquedo nessa interação propiciará esse
desenvolvimento. Já o Desenvolvimento Cognitivo estará presente em
conjunto com o Emocional e Social, uma vez que o Desenvolvimento é
integral e não fracionado.
4.1.
O Brinquedo – O Cavalinho Upa Upa
Pensar
em um brinquedo como ponto básico para uma análise mais profunda
sobre a sua relação com a Teoria dos Estágios de Piaget, em
específico o Sensório-Motor, listamos uma série de brinquedos que
contemplassem formas observáveis do Desenvolvimento Emocional,
Social e Cognitivo Humano. Enfim detectamos que o brinquedo Cavalinho
Upa Upa poderia nos levar a considerações importantes sobre a
Teoria e a utilização benéfica do brinquedo como item auxiliador
do desenvolvimento das crianças nesse estágio.
O
Cavalinho Upa Upa é a formato mais recente de um brinquedo
tradicional, O Cavalinho de Madeira. As sutis diferenças entre eles
vão além do formato e função. De maneira geral são semelhantes
no propósito, mas, propiciam uma utilização diferenciada.
Sendo o
Cavalinho Upa Upa um brinquedo inflável e de formato anatômico
(estética arredondada e com visual mais atraente dadas suas cores e
desenhos), ele se diferencia pelo fato de não movimentar-se –
movimento de balanço como o Cavalinho de Madeira – mas, permite
que a criança o utilize apoiando os pés no chão.
Outro
atributo importante que devemos destacar é o sinal sonoro que ele
emite quando pressionado. O sinal sonoro reproduz o som emitido por
um cavalo real.
Por mais
que seja esse um brinquedo simples em suas formas e funções, o
Cavalinho Upa Upa pode ser um aliado interessante no Desenvolvimento
da Criança principalmente do 4º ao 6º Subestágio do Estágio
Sensório Motor – dos 8 aos 24 meses, considerando o período em
que o sistema corpóreo e intelectual da criança já estará
preparado para perceber as possibilidades de utilização do
brinquedo.
4.2.
O Brinquedo e os Aspectos do Desenvolvimento
O
Desenvolvimento Humano ocorre de maneira gradual conforme exposição
ao meio e percepção de estímulos, nível desenvolvimento e
questões de hereditariedade. Levando em conta esse princípio,
buscamos elencar a forma como o brinquedo “Cavalinho Upa Upa”
pode contribuir para o desenvolvimento da criança durante o Estágio
Sensório-Motor:
4.2.1.
Aspectos Cognitivos
-
Uma brincadeira comum a ser feita com os bebês, geralmente de 6 a 8
meses, é o Cavalinho no Colo. O adulto apoia a criança sentada em
seu colo, ou uma das pernas, e imita o movimento de galope.
-
Aos 12 meses o bebê não consegue brincar sozinho com o Cavalinho
Upa Upa, mas já possui noção de Objeto e de Espaço.
-
Adaptação: Assimilando com a brincadeira de Cavalinho no Colo a
criança poderá se interessar pelo novo brinquedo – nova forma de
brincar – adaptando uma informação percebida e adaptando essa
forma para o novo.
-
Desenvolvimento Físico: Aos 12 meses o bebê já engatinha. Com
isso, tenta brincar com o Cavalinho Upa Upa e essa experiência o
impulsiona a se adaptar fisicamente para brincar sozinha. Assim que
ele reunir condições de brincar adequadamente com o Cavalinho Upa
Upa a criança exercitará a musculatura das pernas – visto que
apoio os pés no chão para isso – o que a auxiliará no
aprendizado do andar e na obtenção de equilíbrio. Ela terá
contato com os sons emitidos pelo brinquedo, podendo reproduzi-los
posteriormente (imitação retardada).
4.2.2.
Aspectos Emocionais
-
Criação de vínculo emocional devido a possibilidade e garantia de
novas experiências por se tratar de um objeto novo em seu ambiente.
Com a criação do vínculo emocional, a criança poderá sentir
falta do brinquedo uma vez que, com 12 meses, terá desenvolvido a
Permanência do Objeto.
-
Assimilação: Possibilidade de assimilação entre o brinquedo e o
animal real – dependendo da exposição da criança ao ambiente
comum dos cavalos, a fazenda.
-
Egocentrismo: Por seu um brinquedo dele, do tamanho dele, o bebê
poderá perceber que se trata de algo que é exclusivamente para ele,
reforçando o egocentrismo presente nessa faixa etária.
4.2.3.
Aspectos Sociais
-
Retratação de ambientes conhecidos: contato com animais reais;
inserção de ambientes imaginados – Pura Fantasia;
-
Egocentrismo: Tendo em vista que a criança “já sabe” – muito
reforçado pelos pais – brincar sozinha os elogios serão uma
recompensa
-
Os elogios como forma de recompensa podem ser considerados como
“atenção” no ambiente familiar, com uma proposta de interação
social.
-
A criança poderá brincar de cavalinho de outras formas, com outras
pessoas em seu ambiente familiar.
4.2.4.
Cavalinho Upa Upa – Outra forma de brincar
Com a
necessidade de se pensar em outra forma de utilização do brinquedo
além da maneira convencional, identificamos a possibilidade de
transformação do Cavalinho Upa Upa em um balanço.
O
brinquedo sofreria uma adaptação. Seria necessário amarrá-lo em
cordas e em uma haste resistente para fixá-lo na parede ou no teto.
Assim, ele não perderia os seus atributos originais, apenas a forma
de brincar é que seria modificada.
Vale
ressaltar que a mudança no formato do brinquedo talvez não
atendesse a faixa etária de 0 a 2 anos. Os bebês dessa idade ainda
não tem firmeza suficiente para se segurar e brincar sozinhas em um
balanço que não garantiria a segurança e proteção necessárias.
O Cavalinho Balanço não seria um brinquedo indicado para crianças
dessa faixa etária.
Entretanto,
considerando o avanço dos Estágios do Desenvolvimento, as crianças
do estágio pré-operatório poderiam utilizá-lo e o brinquedo que
foi útil no Estágio Sensório-Motor poderia continuar fazendo parte
do ambiente e das brincadeiras da criança – inicialmente sob a
supervisão dos pais até que elas consigam brincar sozinhas ou com
outras crianças.
Vemos
que a forma de utilização do Cavalinho Balanço poderia auxiliar o
Desenvolvimento da Criança com, basicamente, os mesmos aspectos que
o Cavalinho Upa Upa. Porém, o que seria agregado na utilização
sugerida é a experimentação de novas sensações (ocasionadas na
ação de balançar) e o desenvolvimento da confiança.
5.
CONCLUSÃO
Concluímos
que a realização desse trabalho de pesquisa e prática nos trouxe
uma visão privilegiada sobre a nossa atuação como Psicólogos em
formação, pois, tivemos a oportunidade de estudar e observar a
aplicação dos conceitos propostos por Piaget sobre o Estágio
Sensório-Motor.
Salientamos
a eficiência de brinquedos e maneiras de brincar no Desenvolvimento
da criança que esteve em foco, desde que o brinquedo esteja adequado
ao seu nível desenvolvimental.
A
partir desse trabalho sabemos que os “brinquedos não mais serão
os mesmos”. Caberá sempre uma nova observação, orientação e
vislumbre de possibilidades para a sua utilização benéfica.
Por
mais simples que seja a ideia em si desse trabalho que nos foi
proposto, ele se fez bastante importante para o estudo e compreensão
dos conceitos e a comprovação de sua veracidade. Podemos aqui
estabelecer uma clareza maior sobre os temas do estudo do
Desenvolvimento Humano, haja vista a necessidade de prosseguir nos
estudos acadêmicos dos próximos estágios propostos por Piaget e
outros teóricos até que se haja uma melhor noção do que ocorre
com o indivíduo até a sua fase adulta.
6.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
· CABRAL,
Álvaro; NICK, Eva. Dicionário técnico de psicologia. 14ª Edição.
São Paulo. Editora Cultrix, 2006.
·
BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lurdes
Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. 14ª
Edição. São Paulo. Editora Saraiva, 2008.
·
PAPALIA, Diane E.; OLDS, Sally Wendkos; FELDMAN, Ruth Duskin.
Desenvolvimento Humano. 10ª Edição. Porto Alegre, 2010.
·
VYGOTSKI, L. S. A formação social da mente. Texto base digitalizado
pela Seção Braille da BPP / Curitiba. 4ª Edição Ebook. São
Paulo, 1991.
Dia
28/04/2013 às 20h38m.





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