O homem novo e a
criança que experimenta, erra e tenta de novo
Filosofia e
educação em Rousseau
Jorge Marques
Pontes
Resumo:
O presente artigo
trata da concepção filosófica de J.J. Rousseau extraída da obra Emílio ou Da
educação e das experiências vividas no curso de graduação e no estágio
supervisionado, concluindo com minha reflexão sobre a práxis das aulas de
filosofia no ensino médio.
Palavras-chaves:
Rousseau, filosofia, ensino, iluminismo.
O mais enigmático
de todos os filósofos do Iluminismo do século 18, o filósofo político,
educador e ensaísta, Jean-Jacques Rousseau nasceu em Genebra em 28 de junho
de 1712. Sua mãe morreu no parto. Não teve qualquer educação formal até os 16
anos, exceto sua própria leitura das Vidas de Plutarco e uma coleção de sermões
calvinistas. Tornou-se o protegido de Madame Louise-Éléanore de la Tour
duPil, baronesa de Warens.
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refugio: lá,
durante quatro ou cinco anos, desfrutei de um século de vida e felicidade
pura e plena, que oculta com seu esplendor tudo aquilo que a minha situação
presente tem de horrível (ANTISIERI).
Aos 30 anos
colaborou com a enciclopédia de Diderot e D’Alembert no verbete Música e aos
38 anos conquistou o premio da academia de Dijon com seu Discurso sobre as
ciências e as artes. No ano de 1762, Rousseau começou a ser perseguido na
França, pois suas obras foram consideradas uma afronta aos costumes morais e
religiosos. Refugiou-se na cidade suíça de Neuchâtel. Em 1765, foi morar na
Inglaterra a convite do filósofo David Hume. De volta à França, Já velho e
cansado, doente e deprimido, Rousseau aceitou o convite do marquês de
Girardin, em cujo castelo transcorreu os últimos meses de sua vida em clima
de relativa tranquilidade psicológica. Casou-se com ThérèseLevasseur, no ano
de 1767. Faleceu aos 66 anos, atingido por insolação durante um passeio a
tarde, morreu em 2 de julho de 1778, no castelo de Ermenonville, onde estava
hospedado.
“Que se destine meu
aluno a carreira militar, a eclesiástica ou advocacia, pouco me importa.
Antes da vocação dos pais, a natureza o chama para a vida humana, viver é o
ofício que lhe quero ensinar [...]” (J.J. Rousseau).
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exatamente, trata
dos princípios para evitar que a criança se torne má, já que o pressuposto
básico do autor é a crença na bondade natural do homem. Outro pressuposto de
seu pensamento consiste em atribuir à civilização a responsabilidade pela
origem do mal. Conseqüentemente, os objetivos da educação, para Rousseau,
comportam dois aspectos: o desenvolvimento das potencialidades naturais da
criança e seu afastamento dos males sociais.
Nesta obra,
Rousseau dividiu a existência em cinco fases: Lactância até dois anos;
infância de dois a doze; adolescência de doze a quinze; mocidade de quinze a
vinte e o início da vida adulta de vinte a vinte e cinco anos. Dos cincos
livros de Emílio, os quatro primeiros tratam da educação do menino e último
da educação da menina Sofia.
O jovem Emilio,
filho de um homem rico, é educado por um preceptor no convívio com a natureza
protegido dos constrangimentos sociais. Emilio é o representante da espécie
humana em seu potencial de virtude, educado para viver bem consigo, com sua
futura companheira Sofia e com os outros, em uma sociedade livre e
democrática. A obra é inspiradora da escola nova e Pestalozzi. E se
contrapunha, naquela época, a visão elitista da educação como privilégio,
afirmando ser um direito de todos. Criticava a pedagogia jesuíta rígida,
punitiva e mera transmissora hierárquica de conhecimentos memorizados, que
tratava a criança como um adulto em miniatura.
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conduzido pelos
interesses do próprio aprendiz, em uma educação de dificuldades progressivas,
lúdicas e interativas que evoluíam naturalmente do sentido ao espírito.
Tudo é certo em
saindo das mãos do autor das coisas, tudo degenera nas mãos do homem [...]
Se por um lado ele
identificava as especificidades do ser infantil, por outro, projetava o homem
do amanhã delimitando claramente a fronteira entre o homem da natureza e o
homem civil. Este é o motivo dominante das obras de Rousseau, ou seja, os
bens que a humanidade crê ter adquirido, os tesouros do saber, da arte, da
vida requintada não contribuíam para a felicidade, para a virtude do homem,
senão que o afastaram da sua origem e o extraviaram da sua natureza. Para ele
a vida social se rege muito mais pelos vícios do que pelas virtudes e o egoísmo,
a vaidade e a necessidade de domínio governam as relações entre os homens.
Essa teoria do estado de natureza é que dá origem a uma de suas idéias mais
difundidas: o homem nasce naturalmente bom, a sociedade é que o corrompe.
Rousseau herda essa
concepção de estado natural de filósofos como Thomas Hobbes, mas faz uma
leitura diferente, dando um novo significado:
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bens alheios.
(NASCIMENTO)
No seu livro, o
discurso sobre a origem e os fundamentos das desigualdades entre os homens,
ele apresenta o ser humano em seu estado de natureza, como um ser doce e
meigo, distante da estupidez dos brutos e das funestas luzes da civilização.
O homem neste estado e compelido, tanto pelo instinto como pela razão a
defender-se do mal que o assola, porém é impedido pela piedade natural de
fazer mal a outrem. É isto o que chamamos de bom selvagem.
Mas com a criação
da propriedade privada finaliza-se o estado de pureza do homem, o estado
natural. Pois esta desencadeia um processo de desigualdade que gera a
violência e a corrupção moral da humanidade.
É nesse momento
então que surge a necessidade de um contrato social e a criação de um estado
civil como antídoto aos males provocados pela vida em sociedade. Contudo, um
primeiro pacto proposto pelos mais ricos servirá apenas para legitimar a
desigualdade. Com o subterfúgio de proteger os fracos da opressão, os já
privilegiados pelo acúmulo da riqueza clama a todos que se unam em torno de
leis que obriguem a todos a deveres recíprocos para conter os ambiciosos e
garantir a cada um a posse daquilo que lhe pertence [...] (NASCIMENTO)
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mais, a educação
pode determinar a natureza do homem?
“Saindo de minhas
mãos ele não será, concordo nem magistrado, nem soldado nem padre, será
primeiramente um homem” (J.J. Rousseau).
Se for verdade que
o homem nasce bom e a civilização torna o mundo e o homem artificial,
corrompe o ambiente natural e altera o equilíbrio ecológico, então a reforma
da educação pode se tornar um instrumento adequado para criar uma humanidade
melhor. Segundo Rousseau, a pressão social manipula a mente do indivíduo
desde o nascimento, diz ele:
“No estado em que
já se encontram as coisas, um homem abandonado a sí mesmo, desde o
nascimento, entre os demais, seria o mais desfigurado de todos. os
preconceitos, a autoridade, a necessidade, o exemplo, todas as instituições
sociais em que nos achamos submersos abafariam nele a natureza e nada poriam
no lugar dela. Ela seria como um arbusto que o acaso fez nascer no meio do
caminho e que os passantes logo farão morrer, nele batendo de todos os lados
e dobrando-o em todos os sentidos” (ROUSSEAU)
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mentes. Sendo
assim, a natureza educa os sentidos, o ensino a mente e a experiência o
comportamento.
“Nascemos fracos,
precisamos de força; nascemos desprovidos de tudo, temos necessidade de
assistência; nascemos estúpidos, precisamos de juízo, tudo que não temos ao
nascer, de que precisamos adultos, nos é dado pela educação [...] Essa
educação nos vem da natureza, ou dos homens ou das coisas. O desenvolvimento
interno de nossas faculdades e de nossos órgãos é a educação da natureza; o
uso que nos ensinam a fazer desse desenvolvimento é a educação dos homens; e
o ganho de nossa própria experiência sobre os objetos que nos afetam é a
educação das coisas. Cada um de nós é, portanto formado por três espécies de
mestres” (ROUSSEAU).
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fenômenos naturais,
o educador conseguirá transmitir pensamento cientifico sem destruir a natural
bondade do jovem, que progredirá, inclusive sob o ponto de vista ético,
simplesmente refletindo sobre suas próprias experiências.
A educação deve ser
progressiva, de tal forma que cada estágio do processo pedagógico seja
adaptado às necessidades individuais do desenvolvimento. A primeira etapa
deve ser inteiramente dedicada ao aperfeiçoamento dos órgãos dos sentidos,
pois as necessidades iniciais da criança são principalmente físicas. Incapaz
de abstrações, o educando deve ser orientado no sentido do conhecimento do
mundo através do contato com as próprias coisas.
“A educação
primeira deve, portanto ser puramente negativa. Ela consiste, não em ensinar
a virtude ou a verdade, mas em preservar o coração do vício e o espírito do
erro” (ROUSSEAU).
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de mover-se, de
brincar e de tomar posse de seu próprio corpo.
A educação negativa
é a ideia-guia da pedagogia de Rousseau, segundo a qual se aprende somente
por si mesmo. O educador, portanto, não deve transmitir nenhum saber, mas:
evitar que o aluno entre em contato com as perniciosas influências morais da
sociedade humana; satisfazer sistematicamente a sua natural curiosidade em
qualquer âmbito; predispor situações da vida adequadas a favorecer seu
crescimento espontâneo.
Liberta da tirania das
opiniões humanas, a criança, por si mesma, e sem nenhum esforço especial,
identifica-se com as necessidades de sua vida imediata e torna-se
auto-suficiente. Vivendo fora do tempo, anda precisando das coisas
artificiais e não encontrando qualquer desproporção entre desejo e
capacidade, vontade e poder, sua existência vê-se livre de toda ansiedade com
relação ao futuro e não é atormentada pelas preocupações que fazem o homem
adulto civilizado viver fora de si mesmo.
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desenvolvendo-se as
faculdades da criança apenas naquilo que possa depois ser-lhe útil.
A educação é o
caminho para a sociedade renovada, com todo o seu rigor e a sua expansão
social, bloqueando no berço toda forma de egoísmo, bem corno toda forma de
ansiedade pelo futuro, que apaga a alegria do presente. A certeza de uma
sociedade harmônica, dominada pela vontade geral, evita os falsos sentimentos
provocados por uma sociedade competitiva, e nos convoca a desfrutar o
presente e toda situação, livres dos temores e dos fantasmas do imaginário de
um futuro competitivo e conflitivo.
Conclusão
A educação deve ser
progressiva, de tal forma que cada estágio do processo pedagógico seja
adaptado às necessidades individuais do desenvolvimento. A primeira etapa
deve ser inteiramente dedicada ao aperfeiçoamento dos órgãos dos sentidos,
pois as necessidades iniciais da criança são principalmente físicas. Incapaz
de abstrações, o educando deve ser orientado no sentido do conhecimento do
mundo através do contato com as próprias coisas.
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atormentada pelas
preocupações que fazem o homem adulto civilizado viver fora de si mesmo.
É necessário,
contudo, prepará-la para o futuro. Isso porque ela tem uma enorme
potencialidade, não aproveitada imediatamente. A tarefa do educador consiste
em reter pura e intacta essa energia até o momento propício. Nesse sentido, é
particularmente importante evitar a excitação precoce da imaginação, porque
esta pode tornar-se uma fonte de infelicidade futura. Outros cuidados devem
ser tomados com o mesmo objetivo e todos eles podem ser alcançados
ensinando-se a lição da utilidade das coisas, ou seja, desenvolvendo-se as
faculdades da criança apenas naquilo que possa depois ser-lhe útil.
Até aqui, o
processo educativo preconizado por Rousseau é negativo, limitando-se àquilo
que não deve ser feito. A educação positiva deve iniciar-se quando a criança
adquire consciência de suas relações com os semelhantes. Passa-se, assim, do
terreno da pedagogia propriamente dita aos domínios da teoria da sociedade e
da organização política.
O ensino da
filosofia e a filosofia de Rousseau preconizada na Obra Emílio ou Da Educação
estão intimamente ligadas a este segundo momento de educação positiva, assim
entendo. No meu estágio pude experimentar (cita experiência de seu estágio)
Referências
bibliográficas
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